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Angola

O Estandarte renasce como símbolo de fé e transformação. 

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Líder histórico da Igreja Evangélica Baptista em Angola – IEBA, Daniel Ntoni-a-Nzinga, pastor e cientista social, saúda o relançamento do jornal O Estandarte e detalha o impacto desse evento para a sociedade angolana e vê o jornal como um símbolo da perseverança cristã e da unidade evangélica em Angola. Lembra que, desde a sua fundação em 1933, o jornal sempre teve um papel crucial não só na evangelização, mas também na construção de pontes entre cristãos de diversas partes do mundo, incluindo comunidades nas ex-colónias portuguesas em África, em Portugal, Brasil e Estados Unidos da América. 

Defensor de um cristianismo activo e comprometido com as transformações sociais, Ntoni-a-Nzinga afirma que O Estandarte pode desempenhar um papel central na construção de uma sociedade mais equitativa e solidária em Angola, alinhada aos princípios cristãos. “Queremos que o jornal seja uma voz de esperança, unidade e transformação”, conclama. Avalia a rica história do jornal como um compromisso que transcende gerações. Entende que o jornal é mais do que um veículo de comunicação. O jornal é um testemunho da fé, da resiliência e da determinação do povo angolano. Em sua nova fase, promete inspirar novas gerações e consolidar-se como uma força para o bem em Angola. Defende que, agora, o jornal tem o potencial de se tornar um catalisador de diálogo e mudança em um país que ainda enfrenta desafios significativos, como desigualdade social, exclusão econômica e os legados da guerra civil. Pode ser um espaço para jovens jornalistas, teólogos e pensadores contribuírem com ideias inovadoras para a construção de uma Angola mais justa e inclusiva. 

Da sua juventude, Ntoni-a-Nzinga recorda-se das adversidades enfrentadas pelo jornal, incluindo censura, falta de financiamento e as limitações impostas pela repressão colonial. E ressalta que, ainda assim, conseguiu desempenhar o papel de disseminar mensagens de fé, esperança e justiça. Destaca que O Estandarte fomentava o pensamento crítico, especialmente entre os jovens. Suas publicações abordavam questões sociais e espirituais, conectando a mensagem do Evangelho aos desafios quotidianos enfrentados pelas comunidades angolanas daquela época. Do seu contacto, como jovem, com o jornal, reconhece sua influência formativa e declara: “O pouco que li e aprendi desse jornal me ajudou a entender melhor o Evangelho de Cristo e os desafios do meu mandato. Foi também uma ferramenta que inspirou resistência e reflexão durante os anos de opressão e reorganização da Igreja.” 

Nascido a 11 de novembro de 1946, na aldeia de Kilumbu (hoje, bairro de Kimakanda, no município de Damba, no Uíge), Ntoni-a-Nzinga teve a tarefa, no período pós-Independência, de juntar as comunidades de crentes baptistas dispersas pela guerra, organizando o que veio a ser a IEBA. Em tempos de grande transformação social e política, ele recebeu o reconhecimento por sua vida dedicada ao serviço pastoral e à causa da justiça social em Angola. 

Ainda criança, foi levado ao exílio no então Congo Belga, devido à perseguição colonial portuguesa. Essa perseguição forçou seu pai, André Nzinga, a fugir do território angolano, em busca de refúgio e segurança. No Congo Belga — país que se tornaria independente a 30 de junho de 1960 — ele cresceu, estudou e desenvolveu sua vocação religiosa. Foi nesse contexto de exílio que ele iniciou seus estudos teológicos e recebeu formação pastoral no Instituto Superior de Teologia em Kinshasa, onde concluiu sua formação em 1974. Durante esse período, o jovem Nzinga vivenciou uma profunda conexão entre a teologia e os desafios políticos da época, que incluíam tanto a luta pela independência do Congo quanto os movimentos de libertação em Angola. 

Ao final de sua formação, foi incumbido de um desafio histórico: reorganizar as Igrejas Baptistas em Angola, que haviam sido forçadas a encerrar suas atividades pelo governo colonial português em 1961. Esse encerramento abrupto incluiu o fechamento de missões, a destruição de estações missionárias como as de São Salvador (Mbanza Kongo) e Nkalambata, e a transformação de algumas em quartéis militares. Outras missões, como as de Bembe e Kibokolo, foram bombardeadas, deixando um rastro de destruição física e espiritual entre as comunidades religiosas locais. 

O jovem Reverendo Ntoni-a-Nzinga retornou brevemente a Angola em 1974 e, de forma definitiva em 1975, aquando da Independência do País. Nesse mesmo ano, foi eleito Secretário Executivo da Comissão de Coordenação das Igrejas Baptistas do Norte de Angola, uma organização criada pela Sociedade Missionária Baptista (BMS) com o objectivo de reestruturar a presença missionária no país. Essa reorganização culminou, em 1977, na formação da Igreja Evangélica Baptista em Angola – IEBA, que unificou várias congregações sob uma única entidade. Foi um período de desafios e oportunidades, no qual, o pastor Ntoni-a-Nzinga desempenhou um papel central na revitalização da fé entre as comunidades devastadas pela repressão colonial. 

Durante essa missão, conta o apoio que teve de líderes religiosos notáveis, como o Bispo Emílio de Carvalho e o Reverendo Gaspar de Almeida. Essas figuras foram fundamentais para enfrentar os desafios do período, incluindo a escassez de recursos, a instabilidade política e as feridas deixadas pela opressão colonial.

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