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Angola

Os jovens tiveram ligação afectiva e intelectual com O Estandarte 

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Aos 89 anos, Jacinto Fortunato oferece uma foto de quando era jovem professor na Escola da Missão Evangélica de Luanda. O mesmo olhar confiante poderia ser encontrado nas fotos do seu tempo de estudos superiores no Brasil, na instituição que hoje é a Universidade Metodista de São Paulo. Não esteve sozinho ali. Na mesma época, Deolinda Rodrigues, que havia secretariado o jornal O Estandarte, também estudava em São Paulo. 

O professor admite sentir-se debilitado após uma série de cirurgias. Mesmo assim, decidiu contribuir para esta edição, escrevendo o próprio depoimento: “O Estandarte foi um veículo de comunicação bastante importante, de carácter patriótico, dirigido por heróis nacionais angolanos como o Rev. Gaspar de Almeida, meu tio e padrinho; António Victor de Carvalho e Sebastião Gaspar Martins, padrinhos de meus irmãos. Propriedade da Igreja Evangélica, O Estandarte teve como prioridade editorial difundir o Evangelho de Cristo e despertar a consciência dos angolanos em prol da Independência Nacional. Tinha como sagrada missão unir os angolanos de todas as denominações cristãs, de Cabinda ao Cunene, do mar ao Leste, como um hino diz. 

Vivíamos, na época, debaixo do regime colonial. Mas, mesmo assim, por resiliência, serviu de luz à nossa juventude. A minha participação não foi de grande vulto, mas lembro-me de ter contribuído de alguma maneira com alguns artigos que reflectiam o pensamento social cristão e moral dos jovens.  

O Estandarte era mensal e sobrevivia graças ao esforço dos angolanos. Invoco também a existência do CEJA, uma instituição da Juventude da Igreja Evangélica que tinha um clube de futebol, onde jogaram Miguelito, Adriano Sebastião e outros. Os angolanos orgulhavam-se de ter O Estandarte como seu jornal, e muitos deram o seu contributo multiforme, entre eles Agostinho Neto. É através de O Estandarte e da própria Igreja que recebíamos notícias daquele que viria a ser o primeiro Presidente de Angola. 

Nos anos 40 e 50, o jornal funcionou na antiga Escola da Missão, por onde passaram muitas individualidades que lutaram e morreram pela independência deste grande país que se chama Angola. E alguns deles permanecem vivos. O facto de o escritório de O Estandarte ter funcionado no 1.º andar da Escola permitiu haver uma interligação intelectual entre alunos e o jornal. Tendo sido a maioria dos estudantes autóctones, pró-independência, não tenho dúvidas de que  isso motivou o governo colonial a tomar as medidas de precaução, como demonstrou no encerramento do jornal, na prisão e no massacre de muitos pastores e leigos, em 1961”. 

Hortêncio Manuel 

Jacinto Fortunato, jovem colaborador do jornal, em Luanda, 1958 

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