13.6 C
Angola

GRANDE ENTREVISTA “A revolução levou muitos dos quadros que a Igreja possuía, para se dedicarem à causa da nação”

Mais Lidos


Os angolanos precisam desminar as suas mentes e assumirem o que são, defende o Bispo Gaspar João Domingos. Numa entrevista concedida a O Estandarte, o responsável pela Igreja Metodista Unida em Angola fala do estado actual e dos desafios da Igreja, faz uma análise do País, a indicar que a origem da situação económica e social que hoje se vive não é um factor desconhecido.

Era um jornal que despertava a comunidade, porque nasceu num ambiente em que o povo vivia colonizado e, praticamente, sem muitos meios para poder expressar os seus sentimentos, e com a grande vantagem de ser o único meio onde os menos favorecidos podiam colocar o seu sentimento, o seu ponto de vista; onde podiam expressar o seu entendimento teológico e, por isso mesmo, não obstante ter iniciado no seio da Igreja Metodista, ele ganhou um protagonismo tal para as igrejas evangélicas, porque era exactamente, como disse, o meio onde qualquer um podia externar aquilo que tinha na alma. Mas também era um jornal que era bastante censurado, não vinha ao público sem que antes passasse por uma censura dos colonialistas [PIDE]. Então, é esse meio, esse espaço, onde os nacionalistas puderam realmente escrever, que se constituía no espaço de chamada de atenção, de alerta, da necessidade de se estar atento exactamente àquilo que estava a acontecer no mundo cristão, e não só, coisa que não tinham através dos órgãos oficiais do governo colonial.

Estamos a falar de questões políticas naquela altura em que isso era proibido… Fazia-se política dentro do jornal, mas não de forma muito exposta, porque, claro, aqueles que censuravam o jornal não deixavam passar aspectos que sentissem que poderia constituir uma agitação das massas.


Quando falamos do jornal O Estandarte, fundado em 1933, entretanto, suspenso em 1961, que recordações lhe vêm à memória?

A última publicação do jornal foi em 1961. Houve algumas tentativas depois da Independência, mas só agora vai ser relançado. Por quê? O jornal era muito vigiado, e havia algumas dificuldades também em relação à própria produção, porque os membros, aqueles que eram subscritores, pagavam uma cota, e todas as vezes que esse dinheiro não entrasse em um montante para produzir a próxima edição, o próprio editor punha o seu dinheiro. Havia já alguma dificuldade financeira que se notava naquela altura; e, depois da Independência, o grande problema foi, e já dizia o Bispo Emílio de Carvalho, que havia problemas também nas gráficas que ajudavam na tiragem do próprio jornal. E isso fez o jornal perder a sua periodicidade, além de ver reduzida a sua tiragem. Então, aqui, Nós reputamos, primeiro, o facto de que, depois da independência, as contribuições dos fiéis baixaram; mas também as gráficas deixaram de produzir. Com a Independência, tudo o que veio depois, o conflito armado e tudo mais, tudo isso contribuiu para que o jornal não ganhasse mais a expressão que teve no período colonial.

“O que mudou foi que nós fizemos todos os esforços no sentido de que o povo chegasse à Independência. No pós-independência, a revolução levou muitos dos quadros que a igreja possuía para se dedicarem à causa da nação.

O que mudou no país, nesse período? O que mudou foi que nós fizemos todos os esforços no sentido de que o povo chegasse à Independência. No pós-independência, a revolução levou muitos dos quadros que a igreja possuía para se dedicarem à causa da nação. Para além de que, alguns conceitos que se vieram a adoptar no pós-independência descredibilizavam a acção da igreja. Ou seja, a igreja católica estava associada ao governo colonial, e, com o socialismo, a experiência era que o Estado ou o governo não deveria ter uma igreja atrelada. Então, a igreja passou a ser taxada como o ópio do povo e, no entanto, toda a atenção que da igreja vinha para poder moralizar a sociedade praticamente deixou de aparecer porque agora estamos na presença de um governo que se sente no direito de trabalhar o homem novo. E esse homem novo foi assumido por pessoas que passaram na igreja, que conheciam esse discurso a partir da igreja. Esses factores todos contribuíram muito, porque agora a igreja não está mais a tentar moralizar, está a tentar assegurar de que não venha a ser destituída do seu papel. Essas mudanças todas que foram acontecendo, realmente, contribuíram muito para que o jornal, em todas as tentativas que vinha fazendo, não pudesse vingar.

“O Estandarte sempre foi a voz dos sem vozes, era lá onde os fiéis se manifestavam. Foi lançado em 1933 e é o único jornal, se não me engano, que fala de Agostinho Neto entrando para a sala de aula na primeira classe.

Na primeira classe. Era comum ouvir-se que ‘para os negros os protestantes que os educassem’, e, então, esse jornal vem trazer o dia-a-dia dos membros e dos filhos dos membros naquilo que eles faziam, como uma forma mesmo de demonstrar, de exaltar a acção dos nativos. Recentemente, ouvimos que mesmo alguns pais católicos tiveram que instruir os seus filhos nas escolas protestantes. Por quê? Exactamente porque muitos deles não eram casados, outros não tinham feito o ritual costumeiro dentro da igreja, e, então, porque não encontravam essas oportunidades, eles vinham para as escolas protestantes, e muitos desses têm os seus nomes registrados n’O Estandarte, datas de nascimento. É incrível, quem lê O Estandarte realmente sente que está na presença de uma relíquia que deveria, na verdade, estar na mão de cada angolano, para compreender exactamente quem são aqueles que um dia protagonizaram a luta pela Independência do nosso país. Então, eu creio que sempre vale a pena continuarmos a registar esses factos.

Passados estes anos, os desafios da igreja são os mesmos?

A igreja sempre teve um referencial maior, que é a Bíblia, e todos os ensinamentos bíblicos é o que a igreja procura materializar. No entanto, esse ensinamento acontece dentro e fora do tempo. Quer isto dizer que apareçam os governos que aparecerem, a Palavra vai permanecer. A igreja continua a trabalhar com esses valores, mesmo nos nossos tempos, e o grande desafio é exactamente ter uma igreja, uma sociedade que não se espelhe única e simplesmente no que está a acontecer no exterior do país. Nós precisamos de ser nós mesmos, temos que ser angolanos, viver nesse emaranhado de desafios que o mundo oferece; e, para sermos angolanos, nós temos que estudar de onde viemos, exactamente; trazer aqui à luz aspectos que Agostinho Neto procurou trazer ao de cima, porque, para ele, nós trabalhamos para nós mesmos, e, por isso, o mais importante é resolver os nossos problemas, o problema do povo. No entanto, e ainda poder olhar para a nossa realidade, dizer que devemos voltar, é um voltar exactamente para resgatarmos a nossa identidade; porque, hoje por hoje, somos levados por todos os ventos e em todos os lugares a sermos um pouco aquilo que nunca aprendemos a ser; então, acabamos por nos tornar cópia de um original que ninguém sabe onde é que está.

Acha que há crise de valores no país, Bispo?

Sempre houve, desde o momento em que a identidade do povo angolano foi adulterada; e, aqui, refiro-me desde os tempos do primeiro contacto do colono português com os angolanos, em que automaticamente nós nos tornámos cobaias nas mãos dos outros. E é exactamente essa leitura que precisamos rebuscar, refazer, para então podermos entender o que significa para nós a liberdade, o que significa para nós a Independência e não ficarmos tacteando em busca de agradar a gregos e troianos para sermos aceites. Eu creio que esses valores podem e devem ser resgatados se tivermos a plena consciência de que nós não somos nós mesmos, nós tentamos, nós buscamos; mas, infelizmente, há muito que se fazer ainda para que esses valores possam ajudar-nos a sermos nós mesmos.

Como contrariar essa tendência que se vive agora no nosso país, de perda de valores? Primeiro, nós precisamos assumir a nossa identidade. Nós não temos uma identidade, todos os que passam por nós deixam as suas marcas, e nós não conseguimos. Já dizia um político que desde o momento que assumimos a Independência, nós nascemos e obrigamos a engatinhar e a andar, nunca nos foi dado realmente aquele momento no qual o povo pudesse dizer que essa é a opção, a melhor opção para nós. Angola nasceu já no clímax dessa dicotomia entre as grandes nações. Tornámo-nos independentes e tínhamos que escolher, ou optarmos pelo socialismo ou capitalismo.

“Os maus tempos sempre existiram, dependendo muito de quais são as facilidades hoje que se apresentam para poder avaliar em que medida estamos num bom tempo ou num mau tempo.

E escolheu-se o socialismo…

Depois da derrocada do socialismo, disseram-nos que ‘vocês não podem ser nada mais do que um país democrático’. Nós nunca conhecemos, nunca vivemos a nossa realidade, a realidade dos nossos sobas, dos nossos líderes que estavam lá. E é aqui onde quero poder dizer que nunca conseguimos ser nós mesmos, nunca nos deram tempo para pensar. Hoje, o mundo está globalizado e então todos têm que se encaixar; mas há aqueles que entram nessa corrida com muito mais recursos do que os outros. Então os outros nunca se vão reencontrar porque quererão ser sempre como aqueles que já estão de alguma forma adiantados. Mas a nossa humanidade, a humanidade angolana, a nossa angolanidade precisa realmente de nos ajudar a contrabalançar os valores que estão a ser trazidos junto de nós. E dessa forma nós podemos. Sim, nós podemos. Eu creio que esforços também não têm faltado da parte de muitos que têm plena consciência de onde e como podemos iniciar todo esse processo. Mas, pronto, parece que os ventos da democracia e outros valores estão muito mais acelerados do que nós, então, acabamos a curvar-nos.

“No ensino, há-de entender que as escolas sempre foram um heraldo das nossas igrejas. Houve, como dissemos, um interregno, particularmente depois da Independência, porque a igreja detinha as missões onde instruíam os angolanos.

Qual é o papel da igreja no resgate dos valores morais e éticos dos angolanos, particularmente a Igreja Metodista que lidera?

O nosso entendimento é que a missão para a qual fomos chamados é uma missão de Deus. E para a missão de Deus, são chamados muitos povos, muitas denominações. E, então, nós aqui, como metodistas, procuramos fazer o nosso máximo, sermos fiéis, entender qual é a missão de Deus para que em torno dela nós possamos prestar o devido serviço à comunidade. A igreja vai sempre rever-se naqueles valores que dignificam o homem e que asseguram a espiritualidade, mas também a materialidade holística do povo de Deus. A Igreja Metodista Unida tem dado, principalmente no ensino, na saúde e na agricultura, muito do seu contributo à causa do povo angolano. No ensino, há-de entender que as escolas sempre foram um heraldo das nossas igrejas. Houve, como dissemos, um interregno, particularmente depois da Independência, porque a igreja detinha as missões onde instruíam os angolanos. Muitos dos angolanos que saíram são produtos dessas missões; mas, depois da Independência, as escolas foram confiscadas pelo Estado, que as assumiu.

O país atravessa atualmente uma fase económica e financeira bastante delicada. Qual deve ser o papel da igreja perante esse cenário?

O papel da igreja em tempos difíceis
Os tempos difíceis sempre existiram, e a forma de avaliá-los depende muito das condições disponíveis no momento. No entanto, ao olharmos para o mundo de forma geral, percebemos que enfrentamos crises cíclicas que afetam diferentes nações. Hoje, vivemos num contexto onde a economia global está condicionada pelo preço do petróleo e de outras commodities, o que acaba determinando se o momento é favorável ou adverso.

Apesar disso, o povo angolano sempre demonstrou resiliência: trabalha, busca alimentar-se e sustentar-se, mesmo que esses esforços nem sempre sejam valorizados. A crise económica que enfrentamos hoje tem raízes históricas. Após 26 anos de guerra, o país viu-se com a infraestrutura profundamente desestruturada, ao contrário de outras nações que não vivenciaram conflitos dessa magnitude.

Por isso, reconstruir Angola é um processo mais complexo e doloroso, especialmente porque o mundo também enfrenta desequilíbrios económicos enquanto tentamos nos reorganizar. A igreja, nesse contexto, tem uma palavra fundamental a dizer. Precisamos “desminar” as mentes e compreender que nós, angolanos, somos os únicos capazes de mudar o rumo do nosso país.

Como a igreja pode atuar?
O papel da igreja passa por trabalhar na transformação das mentes, tanto de fiéis quanto de não-fiéis, incluindo os governantes. É essencial fomentar a ideia de aceitação mútua antes mesmo de pensar em desenvolvimento. Se estivermos divididos, movendo-nos em direções opostas, acabaremos nos chocando no caminho.

Assim, precisamos caminhar unidos, alinhados na mesma direção, para que o desenvolvimento seja uma realidade. Cabe à igreja continuar a propagar essa mensagem junto de governantes, políticos e fiéis. Porém, a igreja também enfrenta desafios internos, que precisam ser resolvidos para que ela possa ser exemplo fora de suas portas.

Reconciliação e paz são elementos essenciais que devem ser promovidos pela igreja. Só assim conseguiremos alcançar os nossos objetivos e contribuir efetivamente para a reconstrução do país.

O combate à fome e o papel da igreja
A questão da fome no país é um tema sensível e amplamente debatido. Inclusive, foi abordado pelo Presidente da República em discurso na ONU. Esse é um problema que deve preocupar a todos, pois a fome é uma violação ao direito básico de sobrevivência.

Como já afirmou o ex-presidente brasileiro Lula, a fome no mundo é, muitas vezes, resultado da falta de vergonha de muitos dirigentes. Alimentar-se é uma necessidade básica e ninguém deveria morrer ou passar fome. Infelizmente, conceitos elaborados por articulistas e gestores acabam por dificultar a vida das pessoas, em vez de ajudá-las.

Sou particularmente contra a ideia de cestas básicas como solução. Elas limitam as pessoas, quando o ideal seria garantir meios para que cada cidadão possa ter acesso à alimentação de forma digna e sustentável. O papel da igreja, nesse caso, é defender essa visão e lutar por soluções que promovam verdadeiramente a dignidade humana.

O País está agora a atravessar uma fase económica e financeira não muito boa. Qual deve ser o papel da igreja perante esses tempos?

Os maus tempos sempre existiram, dependendo muito de quais são as facilidades hoje que se apresentam para poder avaliar em que medida estamos num bom tempo ou num mau tempo. No entanto, eu creio que, se olharmos para o mundo de uma forma geral, nós podemos nos enquadrar dentro dessas crises cíclicas que vão surgindo. Porque está condicionado que o mundo agora vive em função do custo do petróleo e outras commodities, e, então, isso dita se está bem ou se está mal. Mas, na verdade, o nosso povo sempre trabalhou, sempre na base, sempre procurou alimentar-se, manter-se, mas são valores, são esforços que nem sempre são levados em consideração. Agora, a situação económica que hoje que vivemos não é um factor que não se saiba onde iniciou. Nós vivemos 26 anos de guerra, desestruturou tudo que, em outros países que não viveram guerra, detêm ainda para a sua sobrevivência. Então, nós, com o factor guerra, destruímos uma boa parte daquilo que poderia suportar a nossa vida do dia-a-dia, e, hoje, temos que repor em circunstâncias muito mais dolorosas ainda porque o mundo também entrou num desequilíbrio enquanto nós estávamos a tentar organizar. Por isso mesmo, como igreja, nós temos uma palavra a dizer. Nós precisamos desminar as mentes para assumirmos que nós somos angolanos e ninguém fará por nós aquilo que somente nós poderemos fazer.


E como é que se faz isso?

A igreja precisa de trabalhar na mente dos fiéis e não-fiéis, dos governantes, exactamente para mostrar que precisamos nos aceitar primeiro antes de pensarmos no desenvolvimento, porque se nós estivermos colocados em pontos diferentes e assumirmos que queremos desenvolvimento, na verdade, quando tivermos que nos movimentar, vamos acabar chocando no meio sem condições. Então, precisamos de estar todos na mesma direcção para então pensar desenvolvimento, e essas são categorias que as igrejas precisam continuar a propagar junto dos governantes, dos políticos e até mesmo dos fiéis. Porque, hoje, mais do que nunca, o trabalho que a igreja deveria ter já resolvido ou estar a evitar é o que está a acontecer no seio das igrejas. Nós temos que aconselhar, mas a nossa retaguarda também não é segura. Então, temos de encontrar os caminhos que nos ajudem a olhar para estabilizar o movimento dentro das igrejas e, no entanto, para podermos ser o exemplo fora dela e, então, dessa forma, atingirmos os nossos objectivos. Temos de trazer reconciliação, temos de trazer a paz.

A fome no país é um assunto que tem sido bastante debatido; há tempos, o Presidente da República falou sobre a situação na ONU. É um tema que preocupa o Bispo? Como é que a igreja se deve posicionar face a essa questão?

Eu creio que essa é uma questão que deve preocupar todo o ser humano, porque eles foram feitos e colocados num ambiente onde poderiam satisfazer as suas necessidades. No entanto, já dizia o Presidente Lula [Brasil] que a fome no mundo é falta de vergonha de muitos dirigentes, não é um problema a ser colocado, comer é uma actividade básica do ser humano para sua sobrevivência; então, ninguém deveria morrer de fome, ninguém deveria passar fome. Esses conceitos que muitas vezes são elaborados por articulistas que acham que podem regular ou não o modo de vida das pessoas é, exactamente, o que tem atrapalhado as pessoas. Eu, particularmente, sou até contra pensar em cesta básica, dêem de comer ao povo, não dêem cestas básicas. É limitação, ninguém foi feito para sobreviver com cestas básicas, porque há tanta comida no mundo, tanto desperdício no mundo que não se justifica. Mas o acesso é difícil em alguns casos.

Mas, por quê?

Porque há pessoas que querem manipular, querem controlar outros seres humanos, coisa que não entendemos, que não fazem sentido. Dêem de comer ao povo, tragam a comida, deixem o povo comer o tanto que querem, dêem oportunidades para que o próprio povo vá e produza o seu alimento e só depois pedir-se que eles contribuam para outros factores, outros sectores da vida da nação. A comida é básica.

Acha que a fome e a pobreza estão também na base do crescimento descontrolado de igrejas que apregoam prosperidade?

Bem, o ser humano, por natureza, é alguém que vai em busca da superação da dor. Tudo que lhe causa dor, ele tem que buscar uma alternativa. E buscar a alternativa, muitas vezes, é exactamente explorando outros naquilo que eles sentem que os outros são vulneráveis. Dizia alguém que ‘bem, se tem alguém com dinheiro e quer dar dinheiro, eu quero receber. E por isso mesmo, eu tenho que criar um sistema que é para receber esse dinheiro que essa pessoa tem para dar’. No entanto, por conta das necessidades, as pessoas querem, vamos assim dizer, juntar o mínimo que têm para poder superar as necessidades que vão vivendo. E aqui, aqueles espertalhões, aqueles charlatões, que acham que, ‘bem, se o povo tem casa, eu preciso para mim, então eu tenho que montar um esquema para ir buscar esses bens que ele tem’. Então, vemos uma igreja agora montada por indivíduos oportunistas, interesseiros, indivíduos vigaristas, charlatões, e que entendem que podem manipular a imagem de Deus a seu favor. No entanto, vêm e apresentam um Deus que pode fazer, mas que pode fazer se ele libertar aquilo que tem, o pouco que tem. Que não é entregue por esses charlatões ao próprio Deus, mas que acabam entrando no seu bem-estar, alegando que o nosso Deus é rico, é dono das coisas; e, por isso, nós não podemos experimentar a pobreza, mas ao mesmo tempo fazem os outros de pobres.

“Então, vemos uma igreja agora montada por indivíduos oportunistas, interesseiros, indivíduos vigaristas, charlatões, e que entendem que podem manipular a imagem de Deus a seu favor.

Essas igrejas não comprometem a imagem daquilo que são as igrejas tradicionais?


Bem, essas igrejas precisam ser travadas, têm que ser banidas. O governo da Angola precisa de pôr um travão nessa apetência descontrolada de muitos que pensam que estamos num país sem lei, estamos num país do oba-oba, e ninguém respeita ninguém, da impunidade e tudo mais. Precisamos não bater nas costas desses que se sabe que estão a prejudicar o povo. Estão a corromper a fé do nosso povo. Nós não podemos combater outras igrejas, mas o Estado que conhece bem, e até porque tem filhos e filhas que frequentam igrejas e conhecem bem qual é o valor da igreja, tem de começar a colocar barreiras sobre esses que, querendo se fazer passar por profetas e apóstolos, mas, na verdade, são lobos com pele de cordeiro.

A forma de estar da Igreja Metodista é um sinal claro da importância que tem na sociedade. Orgulha-se de ser líder de uma instituição com um papel social tão importante no país?


O nosso orgulho é tanto que transborda os limites da igreja como tal, porque nós temos crentes, temos fiéis metodistas espalhados em todos os sectores da vida dessa nação. Não há uma instituição que possa dizer que não tem metodistas lá; e, porque estão lá, eles têm estado a prestar o seu máximo, o seu trabalho para o bem da nação. E é por isso que a nossa alegria não passa só por aqueles que vemos diariamente circular nas nossas igrejas, mas por todos aqueles que, estando nos lugares em que estão colocados, continuam a trabalhar fielmente para que tenhamos um país digno, um país à altura da fé que nós exibimos. É engraçado que, às vezes, circulamos por muitos lugares, e esses metodistas acabam por se apresentar: ‘olha, eu sou da igreja metodista’, ou então ‘o meu pai é metodista’, ‘o meu avô foi metodista’, ‘a minha irmã’, ‘a minha cunhada’. Então, isso é que traz essa grande satisfação de que os metodistas estão nessa grande missão de Deus, estão engajados a dar o seu máximo em todos os sectores. Olhar simplesmente para dentro da igreja seria limitar o bem que vemos surgir em todos os lados por conta desses que, tendo experimentado, tendo bebido do ensinamento metodista, em todos os lugares, procuram fazer a diferença.


É possível fazer mais?


Sempre é possível partilharmos mais do que aquilo que estamos a fazer, em todos os lugares, porque o conhecimento está aí, foi-nos dado através quer do Antigo quanto do Novo Testamento. Então, os ensinamentos estão aí, a própria tradição também. Naquilo que compete respeitarmos, os valores da tradição estão ali. Então, agora, quanto mais partilharmos do bem que quanto um quanto o outro toma contacto, aí sim, nós podemos fazer muito mais. Todos nós estamos na senda do conhecimento, mas ainda actuamos de forma muito individualista. Agora, quando começarmos a entender as coisas em conjunto, é claro que o resultado será muito melhor e essa é a nossa expectativa para os anos que determinam o tempo da nossa jornada.

O Bispo estima que existam 3 milhões de fiéis metodistas em Angola. Que estratégia é que existe para aumentar esse número?

É poder evangelizar cada vez mais. A evangelização continua sempre no nosso plano e uma evangelização proactiva, que passa pela educação, que passa pela saúde, que passa por outros sectores, que, uma vez materializados e com resultados, nós então possamos ter uma evangelização que se reproduz.

“O nosso orgulho é tanto que transborda os limites da igreja como tal, porque nós temos crentes, temos fiéis metodistas espalhados em todos os sectores da vida dessa nação. Não há uma instituição que possa dizer que não tem metodistas lá; e, porque estão lá, eles têm estado a prestar o seu máximo, o seu trabalho para o bem da nação.


Como gostaria de ser lembrado?


O problema é se me conhecem. Porque se me conhecem, aqueles que verdadeiramente lidam sabem do esforço, da minha determinação à causa da igreja e porque nasci e cresci dentro desta igreja e, no entanto, importa que como um dedicado fiel dessa igreja possa vir a ser lembrado, particularmente por conta desses resgates que procuramos fazer, a atenção que continuamos a dar no sentido de que a igreja precisa aproveitar os tempos. Hoje, mais do que nunca, vivemos no tempo de Deus, o tempo do Kairós e, por conta disso, tudo aquilo que deixámos lá atrás podemos resgatar aproveitando os instrumentos desses novos tempos da modernidade para exactamente irmos resgatar aquilo que são os nossos valores. No entanto, esse esforço é o que procuramos fazer, se, por conta disso, há alguma notoriedade. No entanto, agradeço colocar-me na lista desses que estão na batalha. Como dizia Agostinho Neto, eu coloquei o meu tijolo no muro desse mundo por isso eu também mereço o meu pedaço de pão.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos Artigos